Do caju ao aço: inovação da UFC usa líquido em solução para a siderurgia

Do caju ao aço: inovação da UFC usa líquido em solução para a siderurgia

Tecnologia desenvolvida por pesquisadores da UFC substitui derivados de petróleo pelo líquido da castanha de caju em processos siderúrgicos

Um resíduo agroindustrial frequentemente descartado, o líquido da castanha de caju (LCC), acaba de ganhar destaque como alternativa inovadora para a indústria do aço.

Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) patentearam uma nova aplicação do LCC como componente essencial na fabricação de aglomerantes utilizados em processos siderúrgicos, prometendo ganhos em sustentabilidade, eficiência e custo.

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A tecnologia já desperta o interesse de empresas brasileiras e internacionais e pode representar um avanço significativo na transição energética do setor metalúrgico.

Segundo a UFC, sem revelar o nome, mineradora global já se interessou pelo produto.

Conforme o professor Diego Lomonaco, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC, trata-se de uma solução rara que une desempenho técnico à responsabilidade ambiental. “Estamos falando de uma inovação que entrega resultados concretos e ainda reduz impactos ecológicos”, afirma.

Uma alternativa ao petróleo na fabricação de briquetes

Tradicionalmente, a siderurgia utiliza sínter e pelotas — materiais que exigem alta temperatura e derivam de processos que emitem grandes volumes de dióxido de carbono. A proposta da UFC é empregar o LCC como base para a produção de briquetes, aglomerados sólidos formados por partículas finas de minério.

Essa técnica, além de evitar o uso intensivo de carvão mineral, oferece benefícios adicionais como menor emissão de poluentes e maior resistência térmica e mecânica dos materiais.

Segundo Leandro Miranda, doutorando envolvido no projeto, um dos grandes entraves da briquetagem até hoje era a qualidade dos ligantes utilizados. Muitos deles introduzem impurezas ou não conferem a resistência necessária ao produto final.

A formulação desenvolvida na UFC resolve essas questões com uma combinação exclusiva de LCC e aditivos selecionados, proporcionando desempenho superior e menor impacto ambiental.

Benefícios ambientais e industriais

O líquido da castanha de caju apresenta vantagens significativas frente aos aglomerantes convencionais: é isento de óxidos prejudiciais, como sílica e alumínio, que causam desgaste nos fornos e comprometem o rendimento metalúrgico. Além disso, não gera cinzas, reduz a necessidade de combustíveis auxiliares e facilita o reaproveitamento de materiais.

Outro ponto forte da tecnologia é sua compatibilidade com as plantas industriais existentes. “Desde o início, trabalhamos com o conceito de uma solução que se integra facilmente às operações atuais, sem necessidade de grandes adaptações”, explica Lomonaco.

Potencial econômico

Além dos ganhos ambientais, o uso do LCC também representa uma oportunidade financeira atrativa para a indústria. Como subproduto de baixo valor da cadeia produtiva do caju — uma biomassa abundante no Brasil —, seu custo é inferior ao dos aglomerantes derivados do petróleo. A substituição também pode reduzir gastos com tratamento de resíduos, prolongar a vida útil dos fornos e até gerar créditos de carbono.

Da pesquisa ao mercado

O desenvolvimento da tecnologia envolve anos de testes laboratoriais, validações em escala piloto e parcerias estratégicas com as empresas Regenera Bioenergia e Prorad Projetos. Essas colaborações foram fundamentais para transformar o conhecimento acadêmico em uma solução viável para o mercado.

Com a patente expedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a UFC está agora apta a negociar o licenciamento da tecnologia. A expectativa dos pesquisadores é de que empresas comprometidas com inovação e sustentabilidade se interessem pela proposta.

“A universidade cumpre seu papel quando transforma ciência em soluções reais. Essa patente mostra que o Brasil tem capacidade de liderar inovações de impacto global a partir de recursos próprios e de resíduos até então desprezados”, conclui Lomonaco.

AO VIVO: O cenário da indústria cearense e brasileira| Debates do Povo 9/4/24

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